segunda-feira, junho 22, 2009

A Hipocrosia Num Pais de 3º Mundo

Ponte Barreiro – Chelas numa primeira fase apenas com componente ferroviária "Zona do Barreiro poderá tornar-se ainda mais uma zona de passagem e um novo dormitório na Margem Sul"

Quem será que se preocupa tanto com o povo do Barreiro, perguntam vocês? Será o Banza, cujo partido afirma que o Barreiro é dominado através de uma "extrema esquerda"? Será o Avô Cantigas (ou Partidas), cujo partido, em plenas eleições europeias, afirmou que Portugal entrou na CEE em 12 de Junho de 1986?
Não, meus caros. A afirmação parte dos "radicais", dos "irreverentes", daqueles grandes "malucos", o Bloco de Esquerda!

Segundo o artigo, o Bloco acha que "interessaria que a portagem adoptada tivesse um valor da mesma ordem de grandeza do da Ponte Vasco da Gama".
É engraçado ver como este partido de "esquerda" já pensa como o governo: a maneira mais simples de desmotivar alguém é indo ao seu bolso!
E que tal estimular o cívismo do português (que ainda quero acreditar que existe e que DEVE existir) e apresentar mais extensivamente a alternativa dos transportes públicos (TP)? Mas atenção, não só ao povo do Barreiro!
Toda a margem sul possui alternativas ferroviarias aos TP excepto o Barreiro! Um habitante de almada pode perfeitamente ir de autocarro até Cacilhas e usar a travessía marítima até Lisboa, ou ir de comboio até Lisboa ou ainda decidir se quer atravessar a ponte 25 de Abril na sua própria viatura ou numa das várias carreiras com que a Carris disponibiliza.

Quantos anúncios e publicidades vemos nós da Fertagus, CP, Carris, Vimeca, TST e muitos mais...? Ao mesmo tempo, contabilizemos a publicidade ao novo fantástico e revolucionário carro XPTO que gasta menos um decilitro de combustível, que possuí o mais inovador leitor de MP3 com GPS e faz dos 0 aos 100 em 5 segundos...

O argumento de que a Ponte Vasco da Gama (PVG) seria uma alternativa à 25 de Abril também é pura idiotice. Desde que a PVG foi inagurada em 1998, o tráfego na Ponte 25 de Abril é hoje cerca de 15% maior (dados Lusoponte). A Lusoponte responsabiliza o Estado desta situação dado que, por exemplo, o preço das portagens nas duas pontes devia ser o mesmo, mas foi o executivo da altura que quis manter o da 25 de Abril mais baixo. Também as ligações essenciais para as duas pontes, que eram responsabilidade da administração central, se atrasaram ou ainda estão por construir (11 anos depois).


Mas vamos-nos focar nas distâncias que são necessárias para um habitante da margem sul chegar a Lisboa usando as rodovias:

- Se um habitante de Almada decidir usar a ponte 25 de Abril, partindo do centro da sua cidade, terá que percorrer uma distância aproximada de 9 kilómetros para chegar a Lisboa (ver imagem com percurso).

- Se um habitante de Almada decidir usar a ponte Vasco da Gama, partindo do centro da sua cidade, terá que percorrer uma distância aproximada de 62 kilómetros para chegar a Lisboa (ver imagem com percurso). Temos que ter em conta que esta era a alternativa à 25 de Abril proposta pelo executivo da altura: um acréscimo de 106 (!) kilómetros diários a quem está habituado a fazer 18. E já agora, uma pequena curiosidade: quando pedi ao software que usei para fazer a simulação Almada - VG, este optou por usar a 25 de Abril, atravessar toda a Lisboa para poder ir até à VG, já que o percurso são 23 kilómetros, menos 39 que pela margem sul...

- Se um habitante do Barreiro decidir usar a ponte 25 de Abril, partindo do centro da sua cidade, terá que percorrer uma distância aproximada de 42 kilómetros para chegar a Lisboa (ver imagem com percurso).

- Se um habitante do Barreiro decidir usar a ponte Vasco da Gama, partindo do centro da sua cidade, terá que percorrer uma distância aproximada de 35 kilómetros para chegar a Lisboa (ver imagem com percurso).


Vou agora pegar num exemplo de um país civilizado: se eu fosse um cidadão inglês e quisesse atravessar o rio Tamisa (com 344 kilómetros de extensão e que chega a atingir os 8 kilómetros de largura, mais 1 kilómetro que a distância da hipotética ponte Barreiro - Chelas), saberia que podia escolher de entre 64 pontes, 10 tuneis subterraneos e 6 diferentes companhias de travessias, só em Londres. Sendo um cidadão informado, sorriria porque sabia que o Rio Tejo em Portugal tem 230 kilómetros de extensão e possui 16 pontes em TODO o país...

Patético...

quarta-feira, junho 03, 2009

Típico...

Segundo as estatísticas oficiais, metade da nossa população não vota.
Ou há sempre algo (supostamente) mais importante a fazer ou então simplesmente não apetece.

Este fim-de-semana que vem, há eleições europeias. Vamos eleger os deputados que nos irão representar no parlamento europeu.
No entanto surgiu um pequeno problema. Três, por acaso...

Problema Nº 1
Problema Nº 2

Não coloco aqui o problema nº 3 porque até acho que as máximas para Sábado e Domingo são de 20ºC...

No Brasil, o voto obrigatório foi instituido em 1934. Segundo Assis Brasil "é conveniente ao interesse social que todos os cidadãos capazes se inscrevam eleitores e votem", completando em seguida que "não são inócuas nem desprezíveis certas providências legais, tendentes a fazer com que a totalidade dos cidadãos se aliste e vote".

Citando ainda Dieter Nohlen, em 1981 "Embora muitas vezes apresentada como uma norma pouco democrática, a obrigatoriedade do voto é uma medida institucional adoptada por muitas democracias estáveis. E os motivos para essa adopção costumam obedecer a critérios políticos democratizadores, tais como conseguir a participação de grupos religiosos, minorias políticas ou, simplesmente, garantir a presença da maioria nas eleições".

A obrigatoriedade de voto remonta à antiga Grécia onde Sólon, um legislador de Atenas e considerado uma dos Sete Sábios da Grécia antiga, aprovou uma lei específica em que os cidadãos teriam que escolher um dos partidos, correndo o risco de perder os seus direitos de cidadania. Esta lei fazia parte de um pacote de leis com que Sólon revolucionou na altura a política na Grécia, fazendo também aprovar a abolização da escravatura por dívidas, divisão da sociedade pelo critério censitário (pela renda anual) e criou o tribunal de justiça.
Claro que as suas medidas não foram bem vistas pela aristocracia, que não queria perder seus privilégios oligárquicos.

A obrigatoriedade de voto não é uma lacuna na democracia. Basicamente, as eleições servem para escolher um grupo que defende os nossos interesses da melhor maneira possível.
Todas as decisões são importantes e têm influência directa no nosso dia-a-dia, como nos preços dos bens de primeira necessidade, na nossa renda de casa, em leis das quais nos regemos, etc. É nas urnas que os cidadãos falam, não chegam só as manifestações, blogs, bloqueios ou greves.
Não percebem muito de política, nem o que o partido defende? Envolvam-se mais na comunidade política! Leiam, investiguem! A internet não serve só para engatar gajas no Hi5, nem para ver os golos do Benfica. Temos nas nossas mãos a mais poderosa e acessível ferramenta de informação que jamais existiu e deve também ser usada para descobrirmos, lermos sobre o que não sabemos.
Em vez de assistir a uma maratona de "Flor do Mar", "Deixa Que Te Leve" e "Olhos nos Olhos" durante duas horas e meia, assistam a um debate.

Mesmo lendo sobre todas as variantes politicas, não se identificam com nenhuma? Votem em branco! Mas votem!


Sobre o problema nº 3, vou deixar em aberto... Nunca se sabe que desculpa esfarrapada o português arranjará para não cumprir o seu dever cívico.