Dia 5 de Abril de 1994. Tinha 17 anos e a notícia atingiu-me como um raio... A pessoa que me fez "descobrir" a musica tinha-se suicidado...
Com 17 anos, puberdade, aceitação entre a malta da mesma idade em que a opinião de todos os outros é importantíssima, as borbulhas, a mudança na voz que te faz parecer um ogre cada vez que falas...
A vida não me sorria, como a um determinado grupo da minha idade. O que fazia eu? Ia para casa ouvir as minhas cassetes com o "Nevermind" e o "In Utero" acabadinho de sair e perdia-me no mundo que imaginava ao som das melodias. De repente, fiquei também sem isso...
Tinha 27 anos e uma filha de 2 anos. Decidiu que a melhor solução para os seus problemas de saúde, dificuldade em lidar com o sucesso, drogas; era o suicídio...
Aqui há uns tempos, falei com um grupo de amigos sobre o suicídio e sobre os pseudo-intelectuais que dizem que quem o faz é cobarde. Muito pelo contrário... Tudo se tentou... Quem o faz tem MUITA coragem... Não será de leve animo que se termina a vida...
Pela primeira vez, peguei numa guitarra. E assim tem sido há 10 anos para cá. Auto-eduquei-me na guitarra e é das coisas que mais prazer me dá fazer, hoje. Passei por umas quantas bandas e ADORO tocar. E se os Nirvana não tivessem existido...? Teria eu feito o mesmo...?
Estive hoje a ver a MTV para (re)ver o Unplugged de Nirvana. O que de mais íntimo, cru e belo se fez até hoje, na minha opinião... Quase no final da ultima musica, "where did you sleep last night", Kurt faz uma pausa de meio segundo e olha em frente, ABRINDO os olhos imensos azuis, num expressão que parece dizer "adeus"...
Uma imagem que me vai ficar sempre gravada na memória por muitos anos que viva...
Onde quer que estejas... Descansa em paz.
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